O POVO


Pablo Neruda
1946

Passeava o povo suas bandeiras rubras
e entre eles na pedra que tocaram
estive, na jornada fragorosa
e nas altas canções da luta.
Vi como passo a passo conquistavam.
Somente a resistência dele era um caminho,
e isolados eram como troços partidos
duma estrela, sem bocas e sem brilho.
Juntos na unidade feita em silêncio,
eram o fogo, o canto indestrutível,
o lento passo do homem na terra
feito profundidades e batalhas.
Eram a dignidade que combatia
o que foi pisoteado, e despertava
como um sistema, a ordem das vidas
que tocavam as portas e se sentavam
na sala central com suas bandeiras.

Trecho extraído de Canto Geral (trad. Paulo Mendes Campos), RJ: Bertrand Brasil, 2001, p. 456-457.

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